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aparentemente,umaoftalmoheliosee temsidosugeridocomopotencialmarcadordeexposição
UV excessiva
14
. Coroneo
et al.
8
considera a exposição ultravioleta um factor determinante e
defende que a localização típica no limbo nasal é devida à concentração a este nível dos raios
solares. Esta radiação converge após incidir na córnea periférica (limbo temporal), atravessa a
câmaraanterioreatingeaparteposteriordo limbonasal comuma intensidade20vezessuperior,
danificando as células estaminais limbicas que se encontram localizadas profundamente e que
estão desprotegidas. São estas células epiteliais límbicas basais alteradas que vão originar o
pterigium
.
Desta forma, o
pterigium
é considerado uma lesão proliferativa e invasiva, que resulta de
uma insuficiência límbica focal associada a exposição ultravioleta excessiva. No entanto, os
mecanismos da formação do
pterigium
não estão ainda completamente esclarecidos. Trata-
se, provavelmente, de um processo fisiopatológico de elevada complexidade, commúltiplos
intervenientes, emqueaexposiçãocrónicaa radiaçãoultravioletaassumeumpapel fulcral. Esta
exposiçãoexcessiva levaaumaalteraçãoda regulaçãodociclocelularnosentidoanti-apoptótico
e pró-proliferativo, determinando o aumento da expressão de factores pró-inflamatórios,
angiogénicos e factoresde crescimento.
Ao longodos anos, várias hipóteses têm sido colocadas e investigadas. Amaioriadelas envolve
mecanismosque, dealguma forma, sãomoduladospelaexposiçãoultravioleta, comoa indução
de
stress
oxidativo, a interferênciacoma regulaçãodociclocelulareaexpressãodemediadores
inflamatórios, factoresangiogénicose factoresdecrescimento. Individualmenteouemconjunto,
estas alterações podem contribuir para o crescimento do
pterigium
e para a remodelação da
matriz extracelular.
A indução de
stress
oxidativo
é uma das vias pelas quais a exposiçãoUVB causa danos a nível
celulareestáprovadoqueocorreno
pterigium
15-17
.Oaumentodeespécies reactivasdeoxigénio
e nitrogénio pode danificar o ADN, os lípidos e as proteínas, com inúmeras consequências
possíveis.
A
perturbação dos mecanismos de controlo do ciclo celular,
quer a nível dos reguladores do
ciclo celular, quer a nível da expressão da telomerase, poderá ter um papel na patogenia do
pterigium
. De facto, verifica-seumdesequilíbrionaexpressãode factorespró (Bcl2, survivina) e
anti-apoptóticos (Bax), no sentidode restringir aapoptoseàs camadasbasaisdoepitélio
18
.
Os reguladores do ciclo celular são proteínas que têm a capacidade de induzir morte celular
programada quando detectammutações no ADN. A alteração da sua expressão e/ou função
pode conduzir a um estado hiper-proliferativo, pelo que é ummecanismo que pode contribuir
paraagénesedo
pterigium
.De facto, foidetectadaumaassociaçãoentrea inactivaçãodealguns
destes reguladores eodesenvolvimentode
pterigium
(Ku70, p16, K-RAS)
19
. Noentanto, umdos
reguladores mais investigados tem sido a proteína supressora tumoral p53, com resultados
contraditórios e inconclusivos
18,20-22
.
A perda de heterozigotia é uma alteração genética característica de células cancerígenas, que
também semostrou existir no
pterigium
. Trata-se da perda da função normal de um alelo de
um genequandoooutro alelo já estava inactivado. Aperdadeheterozigotiano
locus
de genes
supressores tumorais pode levar a um estado hiper-proliferativo. A sua presença tem sido
associadaa recorrênciade
pterigium
12
.
A telomeraseéumaenzimaque impedeoencurtamentodos telómerosduranteadivisãocelular
e prolonga a vida celular. Está hiper-expressa em células imortalizadas, como as cancerígenas.