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principal função passa pela regulação da hidratação corneana; além disso, é também respon-
sável pela produção da lâmina basal que lhe é imediatamente anterior e que corresponde à
membranade
Descemet
(10-12µm)
6
.
O limbo corneoscleral, tal como o próprio nome indica, localiza-se na zona de transição entre
a córnea e a esclera e, caracteristicamente, é irrigado por um importante plexo vascular. Há
atualmente evidência de que é ao nível do limbo, em concreto nas palissadas de
Vogt
, que se
encontramas células histaminais, indiferenciadas, com intensaatividademitótica, responsáveis
pela regeneraçãodoepitélio corneano
7,8,9,10
.
Um limbo corneoscleral saudável éessencial ànormal função corneana.Múltiplas situaçõespo-
demestar naorigemdeuma falência límbicagrave com consequências desastrosas paraa SOE,
emparticularas lesõesquímicasou térmicas, autilizaçãoouadaptação inadequadade lentesde
contacto, o síndromede
Stevens-Johnson
, aqueratoconjuntiviteatópica, entreoutras
3
.
Um filme lacrimal estável garante a manutenção de uma superfície corneana homogénea e
transparentee, desta forma, é condiçãoessencial aumaboa acuidade visual. Recentemente, o
DryEyeWorkshop
(DEWS) reconheceua importânciadofilme lacrimal naetiologiadoolho seco,
mas, integrando-o com outras estruturas envolvidas no processo de produção, estabilização
e renovação lacrimal, promoveu um novo conceito, a Unidade Funcional Lacrimal (UFL), que
compreende todo um sistema que inclui as glândulas lacrimais, a SOE e pálpebras, bem como
a inervação sensorial emotoraqueos conecta
11
. Estenovo conceito reflete a importânciadada
às múltiplas interações e interdependências entre os vários constituintes da referida Unidade
Funcional Lacrimal
12
.
O filme lacrimal era classicamente dividido em 3 camadas
13,14
, embora esta divisão deva ser
reconsiderada face aos resultados de alguns trabalhos recentemente publicados
15,16
. Assim,
acredita-seatualmentequeofilme lacrimal écompostoessencialmenteporduascamadas:uma
fina camada lipídica superficial produzidamaioritária,mas nãoexclusivamente, pelas glândulas
de
Meibomius
e cuja principal função é dificultar a evaporação da lágrima e uniformizar a sua
distribuiçãonasuperfícieocular;umacamada interna,mucoaquosa,maisespessaeconcentrada
naproximidadedoepitélio corneanoe cujaprincipal funçãoé, sobretudo, aproteçãoenutrição
daSOE
16
.Acamadamucoaquosaésecretadapelasglândulas lacrimais (principaleacessóriasque
têm a seu cargo a secreção aquosa) epelas células caliciformes conjuntivais (responsáveis pela
secreçãodocomponentemucinoso)
2
.Acada5-6 segundos, opestanejopermiteuma renovação
e redistribuiçãodofilme lacrimal naSOE
17
.
O comprometimento de todo este equilíbrio entre os diferentes elementos da SOE eUFL pode
ocorrer em diferentes situações, destacando-se a utilização inadequada de lentes de contacto,
e representaumadas causasmais frequentesde recursoaos cuidadosde saúdeoftalmológicos.
Históriadas LentesdeContacto
Jáem1508
LeonardodaVinci
descreveuabase teóricadaquiloquemais tarde viriaa ser reconhe-
cidocomoomecanismodeatuaçãodas lentesdecontacto. Segundo
daVinci
, apotênciadacórnea
poderiaserneutralizadapelasubmersãodoolhonum recipientedevidropreenchidocomágua.Um
séculomais tarde,
Descartes
voltava a descrever um processo de “neutralização” da potência cor-
neana, atravésdeum tubodevidrocheiode líquidoemcontactocomoolho
18
.
Oprimeiroregistoescritodeumdispositivocomparável comuma lentedecontactodatade1823eé
daautoriade
JohnHerschel
,astrónomo inglês,quepropôsautilizaçãodeumagelatina transparente