Oftalmologistas
Portugueses
pelo Mundo
14.15
dava «lugar e licença que ela posa curar de toda doença dolhos e por
ventosa por sedendo por todos nossos Reinos e senhorios».
A especialidade conservou-se na família, porque a sua filha Isabel
Mendes, o mesmo monarca mandou passar carta, assinada em
Almeirim a 27 de Dezembro de 1543.
No século XVI existiam em Faro 3 cirurgiões.
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Em 1584 António Baião especialista em oftalmologia do Hospital
de Todos-os-Santos faz denúncias ao Santo Ofício, por sua vez
foi denunciado a 19 de Setembro de 1597 por Gaspar Monteiro
Rebelo, cirurgião catarateiro, natural do Peso, perto de Lamego,
casado com Isabel da Silva, que viera para Lisboa e se hospedara
em casa de João Fernandes de Lacerna, meirinho da Inquisição.
Disse que aquele era cristão novo, morava nas casas do Hospital e
por vezes dizia aos clientes: “ …se vos eu faço o que Deus não faz”.
Em 1584 aparece em Lisboa Luís Teles
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como catarateiro pago pelo
hospital da Misericórdia. Em 1598 o vice-rei Marquez de Castelo
Rodrigo, D. Cristóvão de Moura (ao serviço de Filipe I) pede a Luís
Teles para o tratar e este abandonou o hospital da Misericórdia.
Nos escritos dos portugueses que no século XVI
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percorreram
longas terras, encontram-se várias referências de doenças de olhos
que observaram, ou durante as viagens por mar, ou nas costas
de África, Ásia e América. O depoimento mais interessante a tal
respeito foi dado por fr. João dos Santos, da ordem dos pregadores,
que no último quartel do século XVI e primeiro do seguinte tantos
serviços prestou emMoçambique e noutras partes onde exerceu os
seus apostólicos ministérios, vindo a morrer em Goa em 1622.
Dá-nos ele notícia da hemeralopia que grassava endemicamente na
costa da África, no seu livro “Ethiopia Oriental e vária história de
cousas notáveis do Oriente”, cuja primeira é de 1611, dizia assim:
«Outro género de doença há somente em Moçambique, que vem a
muitas pessoas sem se saber de que procede, a qual é, privar da vista
de noite, não somente de portugueses, mas também de cafres, sem
lhe causar dor nem pena alguma, mais que a de não poderem ver
de noite; e esta cegueira lhe começa desde que se põe o sol até que
torne a nascer, no qual tempo nenhuma cousa vêem, ainda que faça
muito grande luar e tão cegos ficam como se o fossem de nascença.
Mas tanto que o sol nasce, logo tornam a ver muito bem e todo o
dia vem, ainda que o sol ande encoberto.
Dizem alguns, que os fígados de cação assados nas brasas e comidos
são remédio com que se tira este mal. Outros dizem que lavando os
olhos com água dos bebedouros das pombas também saram.
Outros afirmam que todo o que tiver este mal, se se for de
Moçambique para outra qualquer terra, também se lhe tirará e
verá de noite como dantes».