138
hora (contrastando com as 24-48 horas para os primeiros resultados culturais). Para os casos
recalcitrantes em que o estudo microbiológico “teima” em ser negativo, trabalhos recentes
sugeriramo recursoaesfregaço comhidróxidodepotássio (KOH) dadoamaior sensibilidadeno
isolamentomicrobiológico, incluindo fungose
Acanthamoeba
, quandocomparadoaoGram
18,19
.
Tratamento
No tratamento das úlceras da córnea de origem bacteriana é fundamental a realização prévia
de estudomicrobiológico com antibiograma, tendo em vista a selecçãodo antibacterianomais
indicado, dadoovastoespectrodebactérias envolvidas eagravidadepotencial
20
.
A formulação terapêuticadosantibióticos tópicosdevepressuporautilizaçãodecolírioaplicado
várias vezes por dia, de forma a garantir concentrações elevadas, e de pomada aplicada ao
deitar, providenciando concentrações sustentadas durante o período nocturno. Outras
formulações, como os antibióticos subconjuntivais, poderão ter interesse se existir extensão
escleral da queratite, risco de perfuração ou adesão questionável do doente ao tratamento.
Já os antibióticos sistémicos (ex. azitromicina oral, ceftriaxona i.m.) reservam-se para situações
particulares (exemplodaqueratitegonocócica)
21
.
Para a antibioterapia tópica empírica, a primeira escolha deve recair habitualmente sobre uma
fluoroquinolona, isolada ou em associação a um aminoglicosídeo ou cloranfenicol. Na escolha
deum fármacoparaassociar àfluoroquinolona, o cloranfenicol, pela suaboapenetração, pode
ser preferível às tetraciclinas
21
.
Asquinolonasdegeraçãoposterior (levofloxacina,moxifloxacina,gatifloxacina,besifloxacina)são
dotadas demelhor espectroGram positivo em estudos in vitro (nomeadamente
Streptococcus
spp
.) e têm penetração superior no segmento anterior do olho
13
. Demonstrou-se serem as
fluoroquinolonas tão eficazes como as associações de colírios fortificados mais habituais
13,22
. Desta forma, a utilização isolada de fluoroquinolonas de quarta geração (moxifloxacina,
gatifloxacina) pode ser vista como uma opção empírica eficaz no tratamento da queratite
bacteriana, considerandoaelevadaprevalênciadeestirpesGrampositivasnesta infecção
23
.
Emoposiçãoaestesdados,asériebritânicade10anossugereque,devidoà tendênciacrescente
de isolamentosGramnegativos, associadaao factodeestasbactérias seremmenos susceptíveis
às fluoroquinolonas de quarta geração, a utilização de compostos de segunda geração como a
ciprofloxacina serápreferível
5
.
Em todosos casos, a identificaçãodos factoresde risco (locais e sistémicos) é fundamental para
melhor definir os fármacos autilizar.
A esse propósito, a queratite em portadores de lentes de contacto deve levantar sempre a
suspeita de infecção pelos géneros
Pseudomonas
ou
Serratia
, sendo fundamental a adição
à terapêutica empírica de fármacos eficazes sobre bacilos Gram negativos (tobramicina,
gentamicina, ciprofloxacina).
No caso de queratite em doentes submetidos a cirurgia querato-refractiva, o tratamento
empírico pode incluir, além de fluoroquinolonas tópicas, azitromicina fortificada tópica
(eventualmenteamicacinaouclaritromicina fortificadas)dadaamaiorprobabilidadede infecção
pormicobactérias atípicas.
No casode coexistênciadeblefarite, deve ser associadadoxiciclinaouminociclinaoral (excepto
se idade inferior a 10 anos) ou, em alternativa, oxitetraciclina ou azitromicina tópicas. Estes